Nasci em 24 de agosto de 1899. Fico feliz com isso porque gosto muito do século dezenove, embora possa ser dito em detrimento do século dezenove que ele conduziu ao século vinte, que acho menos admirável.
Jorge Luis Borges
Das lembranças que trago da Era Offline esta não é pequena: a sensação de correr ativamente atrás da cultura de massa, de ansiar por ela, de jogar-me no seu caminho, de implorar que ela se despejasse sobre mim – em vez de, como hoje, viver perseguido pela produção cultural na muralha perpetuamente autorregenerada de links da internet, cada um deles redigido para ter maior sucesso em me seduzir e desencaminhar
Este documento contém clipes de áudio que só podem ser ouvidos na página da Bacia na internet.
Ilustração que fiz para o podcast em que Allyson Irlesh, Zé Márcio e Rondinelly Gomes Medeiros, do seu quartel-general no sertão da Paraíba, reviram o túmulo vazio da série Lost sob a luz inclemente de Nietsche, Freud, René Girard, Jesus, Borges, a religião egípcia, teoria literária, o eterno retorno, a espiritualidade hindu, a blogosfera brasileira e o sertão. Duas horas dessa conversa parecerão muito, mas só para quem não sente na brisa mais inesperada a inequívoca
Aí vem você argumentar que é o Estado – o monstro opressor – que dá dinheiro dos contribuintes para os miseráveis gastarem com cachaça e não trabalharem – e eu lhe pergunto três coisas: por que é inadmissível que os pobres não possam ser preferidos pelo governo, pela igreja, pelo Estado, por quem quer que seja, se do ponto de vista do cara mais revolucionário que já houve não há nunca imparcialidade, são as vítimas sempre a serem preferidas? E, além do mais, se o governo está fazendo aquilo que você deveria fazer – dar o dinheiro aos pobres? De onde saiu a regra de que pobres não podem ter seu dinheiro
Não creio que o que vou dizer esteja convictamente firmado para mim, embora seja coerente o bastante para ser dito. O desenvolvimento da teologia da redenção pela cruz, do sacrifício perfeito, tornou-se um álibi poderoso e eficaz contra a narrativa do evangelho e o seu modus vivendi a todos oferecido – o que o vício não deixa mais ver na expressão “Reino de Deus”. A teoria da morte salvífica de Cristo, isto é, a morte que uma só vítima perfeita deveria sofrer em favor de todos, de um lado propicia um esquecimento sutil das razões históricas que levaram aquele rapaz para a cruz – a saber, a sua forma insensata de
Hoje é, no dizer de meus avós, dia grande. Para aqueles que não têm vergonha de se dizer cristãos católicos, é dia da solene celebração da imaculada concepção da Virgem Maria, afastada, desde o útero de sua mãe, da mancha do pecado original; para aqueles que não têm vergonha de assumir alguma religião afro-brasileira, é dia de Iemanjá, rainha do mar, vestida com o mesmo esplendor da Virgem, cheia do mesmo doce mito de pureza festiva. À parte as tentativas aleijadas dos teólogos de afinar o discurso dogmático, sem pé nem cabeça, com proposições científicas; à parte as proposições científicas; e, por fim, à parte
O projeto de esperar a outra vida me cansou, e resolvi abraçar esta. Gostar da simples existência, amar a vida e querê-la de todo jeito, mas do jeito em que se possa gozá-la melhor. […] E comecei a achar um banho de chuva melhor do que a missa; a reunião inútil com meus amigos na praça, melhor do que a falsa utilidade da reunião de catequese; uma cerveja a sós, escutando Chico Buarque ou Mônica Salmaso ou João Sebastião Bach, me caíam bem mais em conta para um prazer do que a palestra que me havia sido incumbida proferir no ECC (sim, eu era o menino de ouro, o protegido prodígio da Diocese, porque aos 17 anos já ministrava