Um dos motivos pelos quais sou 100% impermeável ao apelo dos quadrinhos e filmes de super-herói é que a obsessão norte-americana com a justiça não faz qualquer sentido para um sujeito nas minhas latitudes. As narrativas de super-herói são ensaios e variações na sondagem dos extremos da aplicação da justiça, e o sertanejo/letão/italiano dentro de mim não consegue conceber exercício mais almofadinha e mais maçante.
Os uniformes e narrativas de origem mudam, mas o arcabouço é o mesmo: o super-herói é compelido a agir porque tem despertado o seu senso de justiça, e este é despertado quando ele entende que a justiça tradicional
Tudo que eu queria era escrever um romance: isto é, queria represar uma história entre as páginas de um livro.
Em vez disso fiquei conhecido como blogueiro, mas isso não quer dizer mais nada: com toda a probabilidade você está lendo esta nota não porque acompanha o meu blog, mas chegou aqui através do twitter ou do facebook.
Porque, ouça, as pessoas não leem mais romances. As pessoas não acompanham mais blogs. Romances e blogs são instrumentos e vozes de uma outra era; quando não se calam é por teimosia e por amor à forma, como aqueles diletantes que tiram fotos com rolos de filme ou ouvem discos de vinil porque garantem que o
Ateus e desconversos me interessam mais do que crentes e religiosos, porque via de regra submeteram-se a um autoexame mais inclemente e no processo abandonaram um bom número de ilusões a respeito de si mesmos e dos outros.
Para o teólogo Paul Tillich, o marxismo e a psicanálise são grandes e temíveis em que desmascaram níveis ocultos da realidade que antes de serem articulados determinavam o curso das gentes sem que os tivéssemos de olhar de frente. O homem natural tem medo (em alguns casos fundamentado) de que enxergar a realidade como ela é possa destruí-lo, por isso tende a rejeitar com paixão tanto as revelações do marxismo
Estou de fato convencida de que o mal nunca é “radical”; de que ele é apenas extremo, não possuindo nem profundidade nem uma dimensão demoníaca. O mal é capaz de crescer descontroladamente e assolar o mundo inteiro precisamente porque, como um fungo, alastra-se pela superfície. Ele “desafia a compreensão”, como eu disse, porque o pensamento tenta encontrar alguma profundidade, e no momento em que se ocupa do mal fica frustrado porque ali não há nada. É essa a sua “banalidade”. Somente o bem tem profundidade e pode ser radical.
Hannah Arendt, autora de Eichmann
Dani é um cara com uma barba selvagem e um cabelo de leão. É um erudito, uma usina de força e um santo que viveu a maior parte da vida na companhia sem glamour de gente brutalizada que o mundo esqueceu: drogados, prostitutas, sem-teto, travestis, meninos de rua. Dani era um dos meu heróis pessoais por cada uma dessas razões, mas Dani quebrou e não pode ser mais usado como herói – pelo menos não do modo que eu costumava usá-lo antes.
Quando escreve sobre o que aconteceu, e o faz raramente (Dani escreve hoje muito menos do que fazia), ele explica que, essencialmente, exauriu e morreu. Morreu e foi comido pela escuridão até a escuridão
A internet, que tem todo motivo para querer me irritar, entregou-me semana passada um artigo de Elliott Colla, professor de literatura árabe na Universidade de Georgetown, que procura imprimir uma nova perspectiva à recente destruição de sítios históricos e de artefatos de museu por parte do Estado Islâmico.
Pode-se dizer que a maior parte das elites do Ocidente tende a pensar em artefatos históricos em termos do sagrado. Podemos não chamar de “santas” as coisas que colecionam os museus, mas são sacrossantas em nossas mentes. Isso fica evidenciado pelo modo como são apresentadas (literalmente no alto de pedestais e reverentemente
A pessoa sai pelo mundo e acha que vai encontrando coisas ao acaso, mas as coisas que vai encontrando são apenas as coisas que as outras pessoas já encontraram antes, são as coisas que as pessoas mais encontram.
A história do cristianismo é também a história da dança pública de um número limitado de palavras. É a história de para onde essa inusitada coreografia acabou conduzindo tanto as palavras que estavam dançando quanto as pessoas que estavam ouvindo.
O rabinismo babilônico derrotou a dialética, promovendo a noção de que todas as articulações da verdade são fundamentalmente contingentes.
Daniel Boyarin
Não há no Novo Testamento qualquer indício de que seus autores esperavam para o seu movimento um futuro que fosse de algum modo separado da história e da vocação do judaísmo de que faziam parte. Jesus era judeu, seus discípulos eram judeus; o apóstolo Paulo – muitas vezes acusado de inventar o cristianismo como coisa à parte do judaísmo – era formidavelmente judeu, e em suas exaltações descrevia no movimento de Jesus a vitória universal do judaísmo em vez da
Nasrudin estava andando pelo bazar com um grupo de seguidores. Tudo que Nasrudin fazia seus seguidores copiavam imediatamente. A cada poucos passos Nasrudin parava, sacudia as mãos, tocava os pés e pulava gritando “Hu! Hu! Hu!”. Seus seguidores paravam e faziam a mesma coisa.
Um dos mercadores, que conhecia Nasrudin, perguntou-lhe à parte:
– O que você está fazendo, amigo velho? Quem é essa gente imitando você?
– Virei um sábio sufi – disse Nasrudin. – Esses são meus discípulos: estou ajudando-os a encontrar a luz.
– E como você sabe dizer quando eles já encontraram a luz?
– Essa é a parte fácil! Toda manhã
Creio que eu e Julio Cortázar professamos visões políticas muito diferentes. Mas também creio que, no fim das contas, opiniões são a coisa mais superficial a respeito de qualquer pessoa.
Jorge Luis Borges
Ah, meu caro Borges! O que seria do mundo se adotássemos a sua lucidez? Citado em Seven Conversations with Jorge Luis Borges, de Fernando Sorrentino.