Escrevo livros, faço desenhos e desenho letras. Meu livro mais recente, que você deve desejar comprar, é As divinas gerações. Esta é a Bacia das Almas, onde discutimos ideias que têm o enorme mérito de interessar apenas a nós mesmos.
Jorge Luis Borges costumava lembrar (citando Alfonso Reyes) que a coisa boa em se publicar livros é que não passamos a vida a reescrevê-los. A Bacia das Almas é repositório final de ideias condenadas à reformulação eterna: aqui jazem em tormento incessante as minhas ideias que não viraram livro que viraram livro e aquelas que ainda estão considerando essa possibilidade.
Para entender a Bacia não haverá chave de interpretação mais importante do que esta.
Ora, sou vaidoso o bastante para acalentar a esperança de deixar alguma herança para a posteridade, e não vejo motivo para abrir mão do direito à liberdade de criação de que outros desfrutam. Como não tenho verdade alguma para registrar, tendo vivido uma vida profundamente monótona, recorro à falsidade – porém uma falsidade de uma variedade mais consistente, pois proferirei agora a única declaração digna de crédito que se deve esperar de mim: sou um mentiroso. Esta confissão é, considero, defesa suficiente contra todas as acusações. Meu assunto, portanto, é o que jamais vi, experimentei ou me foi contado, o que não existe nem poderia concebivelmente existir. Solicito humildemente a incredulidade do leitor.
Luciano de Samósata em Uma História Verdadeira, escrevendo no segundo século da era cristã (125-180 d.C.)
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