Este é o último episódio da Bacia das Almas. O conforto é entregar-se a Brabarie:
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Era impossível que reações tão diversas de tantos indivíduos do povo comum fossem objeto substancial de tratamento literário.
Eric Auerbach
Duas observações avulsas de Jorge Luis Borges serviram para me apresentar, antes que eu ouvisse o seu nome pela primeira vez, ao pensamento de Erich Auerbach.
A primeira entende que Edgar Allan Poe, ao inventar a história de detetive, inventou ao mesmo tempo o leitor de histórias policiais. Antes de Poe – isto é, antes da criação do gênero policial – simplesmente não existia o leitor atento e desconfiado que somos todos nós em alguma medida hoje, um leitor que no texto busca incessantemente pistas e espera no desfecho da narrativa reviravoltas. Nesse sentido Poe criou do nada, com Os assassinatos da Rua Morgue, não apenas o leitor de Agatha Christie e Dashiel Hammett, mas também o adestrado espectador das séries de streaming contemporâneas.
A segunda é aquela que explica que Franz Kafka, no simples ato de redigir a sua obra, criou ao mesmo tempo os seus precursores. Os textos de Kafka nos deram a capacidade (anteriormente inconcebível) de encontrar os traços inconfundíveis do seu estilo em diversos autores e obras que vieram antes dele e nada tinham em comum, mas que podem hoje – porque agora, incrivelmente, Kafka existe – ser considerados seus precursores.
Esses vislumbres parecem indicar uma propriedade mágica na literatura, a capacidade de imiscuir-se mundo real adentro e de alterar a própria realidade 1Essa capacidade da literatura de alterar a natureza da realidade comparece em diversos contos de Borges; basta pausar diante de Tlön, Uqbar, Orbis Tertius. – a realidade futura no caso de Poe e a realidade passada no caso de Kafka.
Do modo como pensava Erich Auerbach, filólogo alemão e pensador formidável, a coisa toda é ao mesmo tempo mais simples e mais desconcertante. Seres humanos que somos, a realidade não nos interessa, ou não temos talvez instrumentos para experimentá-la sem intermediários. Não temos verdadeiro acesso à realidade, somente a representações da realidade, que nos são fornecidas pelas histórias que contamos e pelo modo como as contamos. Não é a literatura que é capaz de alterar a realidade, é o contrário: só conseguimos enxergar (isto é, ver representada) a realidade a partir das indicações da literatura.
A obra máxima de Auerbach, ao mesmo tempo enxuta e monumental, é Mimesis: a representação da realidade no pensamento ocidental. Nesse livro está escrito que os evangelhos, independentemente do seu conteúdo, são espantosamente singulares em sua forma e em sua percepção de mundo. Os relatos originais da vida de Jesus são uma sorte de literatura – uma sorte de representação da realidade – que nunca tinha existido antes.
Na Antiguidade greco-romana em que veio à superfície o movimento cristão, alternavam-se dois estilos literários. O primeiro era o estilo ilustre/high style, usado para as grandes tragédias protagonizadas por deuses ou heróis – personagens nobres e formidáveis destinados à grandeza. O segundo era o estilo popular/low style, empregado em narrativas cômicas, farsas ligeiras protagonizadas por gente comum. Sendo o estilo ilustre reservado aos grandes e nobres e o estilo popular reservado para a comédia ligeira, não existia um estilo literário (um modo de enxergar e de representar o mundo) em que gente comum pudesse se deparar com o grandioso e com o sublime.
Essa limitação só veio abaixo quando três ou quatro homens sentaram-se diante de seus pergaminhos procurando um modo de registrar o impacto que havia deixado em um punhado de pescadores e de sem-teto a vida e a morte do filho de um carpinteiro.
O leitor contemporâneo pode sem intermediação maravilhar-se diante do conteúdo dos evangelhos (em nenhuma geração dos homens “amem os seus inimigos” deixará de ser anúncio desconcertante e subversivo), mas perdemos ao longo dos milênios a capacidade de maravilhar diante da forma dos evangelhos – o seu estilo literário, que na época em que foram escritos era de uma originalidade sem mácula 2Outro modo de entender esse discurso é dizer que o mundo se deixou transformar pela forma singular dos evangelhos, não pela singularidade do seu conteúdo..
Para apresentar ao mundo Jesus e a diferença que Jesus no seu mundo havia feito, os evangelistas efetivamente criaram um estilo literário. Inventaram não só um tipo de leitor, mas um modo inteiro de enxergar e de representar a realidade.
Porque, como lembra de diversos modos Auerbach, no período em que foram escritos os evangelhos “era inconcebível o tratamento literário sério de ocupações e de classes sociais ordinárias (mercadores, artesãos, camponeses, escravos), de cenas e lugares ordinários (casas, mercados, lavouras, armazéns), de costumes e instituições ordinárias (casamento, filhos, trabalho, a luta pelo sustento diário): em resumo, era inconcebível o tratamento literário sério do povo e da sua vida.”
Um enorme leque de aspectos da vida que ninguém ignorava era inteiramente ignorado pela literatura, querendo dizer que não existiam convenções sobre como representá-los. Como ninguém havia visto articuladas essas coisas, era como se ninguém as houvesse ainda experimentado em sua plenitude. Com a redação do Novo Testamento, de um dia para o outro, isso encontrava modo de mudar.
Desse modo, ao evangelista ocorreu escrever, como nenhum autor da antiguidade teria escrito: Prenderam Jesus e conduziram-no até a casa do sumo sacerdote. Pedro o seguiu de longe. Quando acenderam um fogo no meio do pátio e sentaram ao redor, Pedro sentou-se com eles. Uma criada viu Pedro sentado junto do fogo, olhou bem para ele e disse: «Esse é um dos que estavam com ele.» Mas ele negou: «Mulher, eu nem conheço esse homem.» Um pouco depois um homem o viu e disse: «Você também é um deles.» «Eu não, homem!», disse Pedro. Quando havia passado cerca de uma hora, outro homem começou a insistir: «Com certeza esse homem estava com Jesus: é da Galileia como ele.» E Pedro disse: «Homem, não sei do que você está falando!». Imediatamente, enquanto ele ainda estava falando, um galo cantou. O Senhor então virou-se e olhou para Pedro, e Pedro lembrou o que o Senhor havia lhe dito: «antes que o galo cante, você irá por três vezes negar que me conhece». Pedro saiu dali e chorou amargamente.
Sobre essa passagem, estabelecida do ponto de vista claustrofóbico de um protagonista que observa de longe seu herói sendo julgado e condenado, Auerbach escreve: “Uma figura trágica com esse perfil e com esses antecedentes, um herói caracterizado por tamanha fraqueza, que extrai porém a sua maior força dessa mesma fraqueza (…) é por completo incompatível com o estilo ilustre da literatura clássica da antiguidade.”
O estilo sem precedentes dos evangelhos retrata “um mundo por um lado completamente real e imediato, da experiência quotidiana, identificável no que diz respeito a tempo, local e circunstâncias, mas que por outro é abalado em suas próprias fundações, que se está transformando e renovando diante dos nossos olhos”.
Isso quer dizer que os escritores do Novo Testamento inventaram o realismo literário; quer dizer também que inventaram o realismo para propor uma tese que os escritores realistas terminariam rejeitando: que a realidade do cotidiano aponta para uma realidade superior. Auerbach:
Porque retrata algo que nem os poetas nem os historiadores da antiguidade tinha jamais se proposto a retratar: o nascimento de um movimento espiritual nas profundezas da gente comum, a partir das ocorrências imediatas da vida contemporânea, que assumem desse modo uma importância que nunca teriam assumido na literatura antiga. Tudo isso se aplica não só à negação de Pedro, mas a todos os acontecimentos relatados no Novo Testamento.
É necessário pausar diante desta vertigem: antes de Jesus e dos seus biógrafos, aos homens e mulheres do povo comum estava em grande parte vetado o caminho dos sentimentos elevados, das paixões arrebatadoras e das grandes reviravoltas. Essa sorte de destino grandioso – por vezes sublime, por vezes trágico, frequentemente as duas coisas ao mesmo tempo – estava reservada aos nobres, aos heróis e aos deuses. Daqui se entende uma vertigem maior, a de que a arte precede a realidade. As grandezas do ser humano comum não tinham sido vividas porque não tinham sido ainda cantadas.
Resulta que no simples e subversivo ato de colocar por escrito os seus relatos os evangelistas estavam populando e inaugurando um novo mundo, um mundo e uma realidade inauditos em que o homem comum podia se encontrar de modo legítimo e sem intermediários com a dignidade e como sublime. Sempre Auerbach:
Jesus não veio como herói e rei mas como ser humano da classe social mais baixa. Seus primeiros discípulos eram pescadores e artesãos; ele se movia no ambiente cotidiano da gente humilde da Palestina; conversava com publicanos e com mulheres degradadas, com pobres e doentes e crianças. A despeito disso, tudo que fazia e dizia era da mais elevada e profunda dignidade, mais significativo do que qualquer outra coisa neste mundo. O estilo no qual isso era apresentado tinha pouco ou nada da cultura retórica no sentido antigo; era sermo piscatorius/linguagem de pescadores, e era ainda assim extremamente comovente e muito mais impressionante do que a mais sublime obra literária trágico-retórica.
“O Verbo se fez carne” se explica em que a própria literatura teria de descer das suas alturas e encontrar modo de misturar-se à gente comum. O estilo elevado dos poemas épicos que cantavam os feitos de deuses e heróis não era ferramenta que bastasse para transmitir a singularidade descalça e desalinhada do rabi da Galileia. O Verbo se fez carne quer dizer que o meio é a mensagem, e que a mensagem de Jesus requeria um novo meio – um novo estilo, um modo inteiramente novo de se contar uma história/representar a realidade.
Em sua introdução a Mimesis, Edward W. Said resume desse modo a percepção de Auerbach: “O cristianismo rompe o equilíbrio clássico entre os estilo ilustre e o popular, do mesmo modo que Jesus destrói a separação entre o sublime e o cotidiano.”
A grande penetração da mensagem cristã parece ter resultado em grande parte dessa intuição, por parte dos seus primeiros proponentes, de inventar para ela um modo novo de representar a realidade. O sucesso se explica em que quando vemos a realidade representada de determinada maneira tendemos a ajustar a nossa percepção da realidade à representação, e não o contrário.
Resultam duas ou três coisas. Às singularidades do homem Jesus podemos ter de acrescentar esta, a de ter sido talvez o primeiro ser humano a ter inspirado um estilo literário – um modo inteiramente novo de representar o mundo e portanto um novo modo de alterá-lo de cima a baixo 3O segundo ser humano com esse mérito pode ter sido a Beatriz de Florença e de Dante Alighieri, mas todos os envolvidos – incluindo Auerbach, que era obcecado por Dante – teriam concordado que sem o passo inicial dos evangelhos a trajetória de Dante rumo a Beatriz teria permanecido inconcebível.
Resta também que, sendo o ser humano inclinado a tudo menos à moderação, desenhamos em dois mil anos um mundo em tudo oposto àquele em que nasceram os evangelhos. Naquele mundo o cotidiano representado como sublime era inconcebível. Nas narrativas que tecemos hoje e que hoje nos orientam, inconcebível é o contrário. Nossas representações da realidade estão saturadas do sublime, estão inteiramente encharcadas e banhadas no sublime, de sublime transbordam. Essas narrativas determinam as nossas percepções e por conseguinte a própria realidade.
A publicidade, que subjugou todas as nações no século 20 e é a narrativa totalizante dos nossos dias, tem um mecanismo que não poderia ser mais simples: ela representa uma conveniente porção (preexistente ou fabricada) da realidade como extremamente – extremamente – desejável. Funciona desse modo: você dá na mão do publicitário alguma coisa, qualquer coisa, e pede a ele que represente essa coisa como sublime.
Porque não tem vergonha, e porque funciona sempre, a publicidade não vai rejeitar nenhum argumento como absurdo, nenhum apelo como demasiado infame. É porque ajustamos a realidade à representação que a publicidade vai apresentar como se fosse um objeto fresco e radiante de desejo (e não motivo de lamentação universal) uma pizza congelada que vai ter digamos um mês de idade no dia em que você for tirá-la do plástico e requentá-la no forno. A publicidade vai representar a realidade como se fosse coisa mais sublime você desejar um objeto que não te interessa do que viver na segurança de que não precisa dele.
Por seis ou sete décadas a publicidade vinha já representando como sublimes porções arbitrárias da realidade. A realidade porém só foi plenamente sequestrada com a entrada em cena das mídias sociais, que conferiram ao cidadão comum a possibilidade e a incumbência de propagar continuamente, como uma boia de advertência, a sua posição e a sua relevância. Quando entenderam que essa tarefa ocuparia todos os espaços da vida e equivalia a uma estratégia social de subsistência, as pessoas começaram a representar a sua realidade usando a linguagem totalizante que conheciam, aquela da publicidade. Como resultado, ninguém mais se pode dar ao luxo de ser despretensioso: cada um se sente constrangido a expressar continuamente a sua familiaridade com aquilo que é bom.
O homem conectado, sentindo-se com acerto confinado à rede, entende que é sua tarefa eliminar da realidade o cotidiano. Tudo que faz não pode ser menos que interessante, belo, extravagante, de bom gosto, escandaloso, lúcido, relevante ou revelador – ou deve ser perpetuamente representado como se fosse, porque não existe diferença.
Estamos falando de (e de dentro de) uma realidade em que a experiência total da humanidade – cada instante, cada ponto de vista, cada percepção instantânea de cada um – deve ser representada/publicitada como sublime. O que se costumava chamar de cotidiano – o simples, o chão, o repetitivo, o pequeno, o despretensioso – é que se tornou inconcebível diante da fabricação perene do belo, do relevante, do invejável.
Nesse contexto, atualizar é o próprio ato de manter fora do tempo, o ato contínuo de cancelar o cotidiano no eterno presente de uma linha do tempo que não avança jamais. É por isso que, enquanto o modo dos evangelhos de representar a realidade introduziu uma coisa nova no mundo, uma mídia social como o Facebook encarna a coisa mais saturada, antiga e ultrapassada que já se conheceu: um sistema que não avança jamais e proíbe-nos categoricamente de avançar. A aparência de perpétua revolução oculta um conformismo universal, totalitarista e paralisante. Não é seguramente à toa a obsessão de filmes e séries contemporâneas com os time loops – aqueles ciclos temporais fechados que conduzem perpetuamente ao mesmo ponto de partida e aos mesmos resultados. É a profissão e a representação da realidade que nos conferiu o Facebook.
Porque, naturalmente, o preenchimento total da (representação da) realidade com o sublime resulta não num todo-sublime mas num todo-grotesco. O progresso encontra modo de obscurecer, como nunca cessou de fazer, precisamente aquilo que se propõe a iluminar, revelando-se por fim uma forma monumental de retrocesso. Era previsível, era na realidade inevitável, que a ascensão do conectivismo finalizaria o processo ancestral de nos desconectar de nós mesmos.
Todo esse estado de coisas, terá percebido o meu leitor, não passa da manifestação mais recente, aperfeiçoada e algoritmicamente calibrada daquilo que Marx e Gandhi chamavam de alienação e que Debord chamava de contemplação sem trégua do espetáculo.
Alienação quer dizer que, num nível profundo, vivemos separados daquilo que vivemos. Não estamos onde indicamos que estamos, não formamos qualquer ligação com aquilo de que obtemos o nosso sustento, nossas prioridades e estado de ânimo são diferentes daquilo que damos a entender. A essência se deslocou para a imagem, o coração se deslocou para o celular: vivemos entre uma coisa a outra e deixamos de ter sede própria. Todas as versões que circulam de nós são não-autorizadas, incluindo aquela que nos olha do espelho. O processo de reconciliação e de desfragmentação interior que Jung chamava de individuação, preenchemos todos os intervalos da vida com a tarefa de torná-lo impossível.
A última pergunta não é se existe, num nível pessoal, modo de recuperar o acesso perdido a nós mesmos (coisa que talvez seja possível), mas se estaríamos dispostos a queimar cartuchos e pontes na tentativa, considerando que a nossa desconexão individual resultaria em pouco o nenhum desdobramento no âmbito do próprio sistema.
Parece claro que se você se desligar de entidades como Facebook e Instagram, além de receber a sua vida de volta e de ser devidamente punido por isso, não vai produzir o mínimo risco na pintura do estado de coisas. As mídias sociais terceirizaram o trabalho da publicidade, que é convencer a todos que é possível, sustentável e desejável vender a cada habitante do planeta a mesma raça artificial de sublime. É trabalhando nessa campanha de propaganda que você tem empregado cada instante do seu tempo livre há mais de uma década, e no dia em que capitular se erguerão batalhões para assumir o seu posto. Você pagaria pra sair sendo que recebe pra ficar?
Porque, como nos ensina Tolkien através do profeta do Rio dos Cedros, o dilema emblemático da nossa era não é correr atrás de um poder que não temos, mas livrar-se coletivamente de um poder que temos – sendo que a segunda coisa requer muito mais recursos e determinação do que a primeira.
Na Urubici que conheci na década de 1970, em que quase tudo era produzido localmente e nenhum aspecto da cultura tinha sido moldado pela linguagem totalizante da publicidade, nada era representado como sublime, e paradoxalmente tudo era. Aquele gente vertiginosa não tinha sido ainda ensinada a desejar o que não tinha. Desde aqueles dias, e em tempo recorde, com o discurso/balela do sublime intervimos no mundo físico com tamanha fúria que cancelamos da realidade toda uma série de futuros possíveis.
Sonhar em salvar o mundo nunca custou tanto, considerando que em termos de mudanças climáticas e ambientais o mundo como o conhecemos parece ter ultrapassado qualquer possibilidade de salvação, e considerando que demonstramos pouco ou nenhum interesse em reverter as práticas que poderiam salvar aquilo que resta.
Se a façanha dos evangelhos foi ensinar gerações a encontrar o sublime no quotidiano, nossa versão do empreendimento foi eliminar por completo o quotidiano – e para as próximas gerações eliminamos a verdadeira possibilidade de um quotidiano, no sentido de ordem natural e sustentável das coisas – através da obsessão capitalista em falsificar o sublime.
Toda época tem o dilema ético que merece, e num mundo condenado o dilema é este, se você faria a coisa certa quando fazer a coisa certa deixou de ter o potencial de salvar o mundo.
Vocês querem todos que o mundo mude de modo a poderem ser diferentes do que são agora. Mas não me convence a ideia de que as pessoas mudem com o mero advento de um mundo novo. E de qualquer modo esse mundo não tem como ser mais real ou satisfatório do que este.
Shirley Jackson, O relógio de sol
Este é o último episódio da Bacia das Almas.Mas tem spinoff! A luta continua na Sereníssima: aserenissima.baciadasalmas.com
Notas
1. | ↑ | Essa capacidade da literatura de alterar a natureza da realidade comparece em diversos contos de Borges; basta pausar diante de Tlön, Uqbar, Orbis Tertius. |
2. | ↑ | Outro modo de entender esse discurso é dizer que o mundo se deixou transformar pela forma singular dos evangelhos, não pela singularidade do seu conteúdo. |
3. | ↑ | O segundo ser humano com esse mérito pode ter sido a Beatriz de Florença e de Dante Alighieri, mas todos os envolvidos – incluindo Auerbach, que era obcecado por Dante – teriam concordado que sem o passo inicial dos evangelhos a trajetória de Dante rumo a Beatriz teria permanecido inconcebível |